Morreu o kaiser da Chanel. Lagerfeld marcou durante décadas o mundo da moda e fez a ponte entre o luxo e o prêt-à-porter.
O designer da Chanel tinha 85 anos. Karl Lagerfeld é o rosto da moda de autor e de luxo da era pós-costureiros: o homem que simultaneamente estava nos dois mundos, o dos ateliers e rarefacção luxuosa da primeira metade do século XX e o do prêt-à-porter mais pop que simbolizou as grandes mudanças no sistema de moda nos últimos 30 anos.
Atingiu os píncaros da sua carreira — e, argumente-se, do seu talento — quando chegou à direcção da mais emblemática das maisons de mode, a Chanel, em 1983, e também aí ascendeu à popularidade que o tornou esse rosto conhecido por grande parte do mundo, mesmo aquele que não contacta com o universo da moda. As reacções à sua morte não se fizeram esperar. “Nunca esqueceremos o teu incrível talento e inspiração sem fim. Estávamos sempre a aprender contigo”, comentou Donatella Versace. Diane von Fürstenberg chamou-lhe um “génio provocador” e “uma testemunha tão perceptiva de tudo.
A sua imagem era a sua marca: óculos escuros, cabelo impecavelmente branco e penteado numa poupa com um laço de veludo, camisas brancas, anéis incontáveis nas mãos. O documentário Lagerfeld Confidential (2007) abria a gaveta dos seus anéis, mostrava-lhe as obsessões, a intimidade possível e permitia-lhe as grandiloquências. “A moda é efémera, perigosa e injusta”, postulava Karl Lagerfeld. Sobre si, um poliglota e um leitor voraz, dizia ser “um improviso total”.